06 abril 2010

Vícios e manias. Xadrez mental

 Desde pequena que tenho por hábito, ao deparar-me com um problema, um conflito, qualquer evento dessa natureza, abstrair-me, migrar para uma divisão à parte no meu interior, analisar a situação - prós e contras, o que resulta, o que não resulta... - e calcular todo e qualquer desfecho possível para cada opção que pondere. Qual jogo de xadrez, considero todas as minhas opções de jogo em qualquer direcção que me for permitida e todas as jogadas que daí possam advir do adversário. Foi um exercício que aprendi sozinha para evitar conflitos maiores (especialmente útil para saber como dizer à minha mãe aquilo que dito de outra maneira a faria gritar comigo). Essa 'defesa' evoluiu comigo e, sem eu própria dar conta, tornou-se uma característica vincada da minha personalidade, embora poucas pessoas consigam reparar. Posso mesmo dizer que me tornei tão boa neste exercício que o faço sem me dar conta e com rapidez tal que me permite agir como se não demorasse sequer um segundo a reflectir, mas dou por mim a ter extensos diálogos comigo própria em volta das minhas opções a cada momento.

 A maior parte das vezes, a minha jogada resulta exactamente como previ. A única coisa capaz de me distrair neste jogo é o amor. (Ah! O amor...) Distrai-me, sim. Faz-me agir por instinto, sem análise, sem ponderação. E quando o contra-ataque me surpreende sobre-analiso a situação. Sobrecarrego-me de tal maneira com 'E se...'s que perco a capacidade de abstracção e, como um novato ansioso, esforço-me para ler o pensamento da outra pessoa em entrelinhas que, por vezes, nem sequer traçou.
 Tenho feito um esforço para diminuir a intensidade desta minha mania. Tem resultado, mas nos últimos dias tive uma recaída, tudo porque o ambiente se tornou mais silencioso que o que estava habituada. Confesso: paranóia minha, muito provavelmente, embora não tenha percebido o que despoletou a mudança. Mas não me apetece analisar mais.


 Afastei-me do tabuleiro. É a tua vez de jogar.

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