06 abril 2010

Vícios e manias. Xadrez mental

 Desde pequena que tenho por hábito, ao deparar-me com um problema, um conflito, qualquer evento dessa natureza, abstrair-me, migrar para uma divisão à parte no meu interior, analisar a situação - prós e contras, o que resulta, o que não resulta... - e calcular todo e qualquer desfecho possível para cada opção que pondere. Qual jogo de xadrez, considero todas as minhas opções de jogo em qualquer direcção que me for permitida e todas as jogadas que daí possam advir do adversário. Foi um exercício que aprendi sozinha para evitar conflitos maiores (especialmente útil para saber como dizer à minha mãe aquilo que dito de outra maneira a faria gritar comigo). Essa 'defesa' evoluiu comigo e, sem eu própria dar conta, tornou-se uma característica vincada da minha personalidade, embora poucas pessoas consigam reparar. Posso mesmo dizer que me tornei tão boa neste exercício que o faço sem me dar conta e com rapidez tal que me permite agir como se não demorasse sequer um segundo a reflectir, mas dou por mim a ter extensos diálogos comigo própria em volta das minhas opções a cada momento.

 A maior parte das vezes, a minha jogada resulta exactamente como previ. A única coisa capaz de me distrair neste jogo é o amor. (Ah! O amor...) Distrai-me, sim. Faz-me agir por instinto, sem análise, sem ponderação. E quando o contra-ataque me surpreende sobre-analiso a situação. Sobrecarrego-me de tal maneira com 'E se...'s que perco a capacidade de abstracção e, como um novato ansioso, esforço-me para ler o pensamento da outra pessoa em entrelinhas que, por vezes, nem sequer traçou.
 Tenho feito um esforço para diminuir a intensidade desta minha mania. Tem resultado, mas nos últimos dias tive uma recaída, tudo porque o ambiente se tornou mais silencioso que o que estava habituada. Confesso: paranóia minha, muito provavelmente, embora não tenha percebido o que despoletou a mudança. Mas não me apetece analisar mais.


 Afastei-me do tabuleiro. É a tua vez de jogar.

23 fevereiro 2010

How can you describe a feeling?

"Um homem precisa de viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou tv. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio tecto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver".
- Amyr Klink in "Mar sem fim: 360̊ ao redor da Antártica‎"


Há alturas em que devemos deixar o momento falar por si só...

19 fevereiro 2010

My Graduation Speech


A vida é feita de escolhas. Opções tomadas com maior ou menor ponderação por nós e pelas outras vidas à nossa volta. São esses os passos constantes que nos permitem desenhar o nosso percurso pelos inúmeros caminhos traçados à volta de nós mesmos. As caras que estão diante de mim hoje são as mais oportunas testemunhas do cruzamento em que nos encontramos. Graças a infindáveis escolhas, tanto as tomadas como as descartadas, caminhámos juntos neste trajecto das nossas vidas.

Aqui, nesta escola, as pessoas que conhecemos, as experiências que nos foram proporcionadas e as lições que aprendemos contribuíram solidamente para as pessoas que somos neste preciso momento. Este foi mais que um local de aprendizagem de conteúdos. Foi uma aprendizagem por si só, um palco de crescimento.

Mas, a partir de agora, o conforto da cumplicidade própria de quem caminhou lado a lado com as mesmas dúvidas e receios e partilhou alegrias, vontades e descobertas terá de dar lugar à nudez do individualismo. Avançamos para a vulnerabilidade da tentativa e erro com a vontade e a ousadia de dar o nosso próprio contributo para o mundo.
Assim, reunimo-nos aqui e agora professores, pais, amigos e colegas para celebrar, não fim de um caminho, mas sim a abertura de novos à nossa frente.


Bem-vindo, Futuro!